Com a chegada da aurora, a escuridão da noite se afasta, o brilho das estrelas vai se apagando e a rainha da noite dá lugar ao astro-rei. O sol nasce e a claridade aos poucos vai invadindo o universo e a vida reinicia com energia e alegria renovadas. Os pássaros despertam cantando e, com seu canto, alegram e dão vida para a natureza. As pessoas acordam e a vida dá movimento à vida. O dia chega ao fim e a claridade do astro-rei, após ter cumprido sua missão, gentilmente dá lugar à tênue claridade da lua e das estrelas, a rainha e as bailarinas da noite, respectivamente. E assim a natureza se comporta de forma perfeita. Além do aspecto físico, o ser humano tem o lado espiritual que também avança, que também tem sua trajetória acompanhada de valores humanos, sociais, morais e religiosos que sofrem alterações com a práxis das relações humanas, o avançar da ciência, da tecnologia, da teologia e da própria filosofia. E assim foi e é. No início havia quase nada, apenas a natureza. Depois foram acontecendo avanços tecnológicos e biotecnológicos e o ser humano foi conquistando e desbravando o espaço, dominando e transformando elementos da natureza.
FUNÇÃO
SOCIAL DO SINO
E o homem também inventou e produziu o
sino, além de muitos outros instrumentos e elementos musicais para registrar
sua cultura, proporcionar momentos de prazer e entretenimento, alimentar
sentimentos e, com os sinos como suporte, também prestar o seu louvor ao
Criador.
Como a rapidez dos meios de comunicação
ainda não era tão ágil quanto na atualidade, ao lado das capelas ou das igrejas
que eram construídas, os colonizadores ergueram campanários para que as pessoas
pudessem ser informadas a respeito dos fatos de sua comunidade através do sino.
E aí, como o ser humano é inteligente e criativo, estabeleceu uma linguagem
própria para o badalar dos sinos: de acordo com a melodia produzida podia-se
saber/concluir o fato que estava sendo comunicado através do toque.
Com a vinda dos imigrantes, que
trouxeram consigo um forte espírito de fé para poder suportar as agruras e as
dificuldades, as igrejas eram as primeiras edificações erguidas na e pela
comunidade. Porém, nem todos os moradores residiam tão próximos à igreja/capela.
Havia necessidade de convidá-los ou comunicar a todos de uma só vez que estava
na hora de se reunir para o culto.
Durante muito tempo as badaladas dos
sinos eram o mais importante meio de comunicação aos moradores de aldeias,
povoados, vilas e cidades. Era pelo som produzido pelo badalo que batia no
metal que o povo sabia as notícias. Aos poucos, devido à rapidez e ao avanço da
tecnologia da comunicação e informação, os sinos passaram a noticiar apenas
fatos relativos à Igreja Católica.
Durante algum tempo o sino foi um
instrumento que exerceu um papel importante como veículo de comunicação à
comunidade. Conforme o badalar, o povo recebia a informação de mortes, (batidas
diferentes para criança e adulto; batidas diferentes para ricos e pobres e
mulheres) de festas, de visitas ilustres, de casamentos, de incêndios e
transmitia também a alegria por um fato que era esperado. Em Tapera, o final da
segunda Guerra Mundial foi comemorado, durante a festa de 8 de maio de 1945,
com o repicar dos sinos da Matriz e foguetes.
Além
de convidar os fiéis para o culto religioso e anunciar todas as cerimônias da
igreja, os sinos, com seus solenes e majestosos sons, também eram ligados a
contos e lendas. Esses sons que percorriam vales, montanhas e ecoavam pela
natureza influíram no espírito das populações. Há registros de crenças
medievais que a maravilhosa sonoridade dos sinos punham em fuga os demônios.
Era muito natural pendurar miniaturas de sinos no pescoço das crianças. Ao se
aproximar uma tempestade, os sinos eram tocados para acalmar a violência do
temporal através do poder misterioso da música produzida pelo sino.
Ainda hoje há templos com carrilhões com
um número bastante variado de sinos. Porém, de acordo com o peso do sino é a
nota musical produzida, oferecendo uma gostosa melodia quando tocados em
conjunto.
Quando da colonização, o sino foi
referência nas cercanias das capelas e igrejas por muito tempo: ao amanhecer,
ao meio-dia quando indicava a pausa para a reposição das energias e para o descanso
e, às dezoito horas, quando todos paravam, em qualquer lugar onde estivessem,
ao ouvir o toque do Ângelus, para rezar a oração da Ave Maria, indicando que o
final do dia também estava se aproximando.
E o som do sino ecoava pelas matas,
pelas colinas, pelos vales com sua melodia e percorria caminhos até atingir os
corações. Até os pássaros, com o toque do Ângelus, iniciavam o retorno para os
seus ninhos. A natureza e o homem iniciavam as atividades de recolhimento para
o descanso quando a noite estava a cair.
A HISTÓRIA DA
COMUNIDADE CATÓLICA, DOS SINOS E DO RELÓGIO
Em 1897 iniciou-se efetivamente a
ocupação da área que hoje compreende o município de Tapera. Aqui, Coronel
Gervásio, foi um dos centros geográficos da Colônia Alto Jacuhy. Somente cinco
anos mais tarde, 1902, a abundância de madeira aqui existente forneceu o
material para a construção de uma pequena capela, nas proximidades onde hoje se
localiza a Sicredi Integração Rota das Terras. Nessa época, Tapera pertencia à
Diocese de Porto Alegre, única no Rio Grande do Sul.
A região passou a pertencer à Diocese de
Santa Maria que foi criada em 15 de agosto de 1910.
Em 1914 o curato do Alto Jacuhy era
desmembrado da Paróquia de Passo Fundo. Em 1919 o curato Alto Jacuhy passa a
ser paróquia com sede em Não-Me-Toque. Tapera passou a pertencer a esse curato.
A Portaria de D. Antônio Reis, Bispo de
Santa Maria, cria a paróquia de Nossa Senhora de Pompeia de Tapera no
território do Alto Jacuhy, observando os limites geográficos do 3º Distrito de
Carazinho, em 01 de
novembro de 1932.
Em 12 de fevereiro de 1939 é lançada a
pedra fundamental da Nova Igreja Matriz quando foram padrinhos: Augusto Koehler
e Wilma Rosália Erpen. A nova Igreja, um ano após ter iniciada a sua
construção, foi consagrada em 05 de fevereiro de 1940 por D. Antônio Reis.
Em 1951 foi criada a Diocese de Passo
Fundo à qual a Paróquia de Tapera passou a pertencer e foi escolhida para ter
um Seminário.
Quando o templo ainda era de madeira,
nele havia apenas pequeno um sino a chamar os fiéis para as atividades
religiosas e para lembrar o Criador e anunciar o amanhecer; para alertar a
todos até à distância que se podia ouvir, que era momento para uma pausa e para
reabastecer as energias: era o momento do almoço e, ao fim da tarde, para convidar
a todos para a oração do final do dia e que era o momento para encerrar suas
atividades e se recolher para o descanso. Com a construção da nova Matriz, três
sinos foram erguidos a 45 metros de altura nas torres. Um pesava 250 kg, outro,
350 kg e o maior 400 kg. Os dois últimos foram retirados em 2006 porque estavam
rachados e foram substituídos.
Quando
só o sino pequeno tocava badaladas compassadas e espaçosas, anunciava a morte
de criança; quando tocava o sino médio, anunciava que uma pessoa jovem tinha
morrido e, para anunciar a morte de uma mulher, havia toque especial; quando
tocava o sino maior, todos sabiam que uma pessoa de idade havia morrido.
Os
sinos não anunciavam apenas fatos tristes. Eles também faziam convites. O
convite era feito da seguinte forma: inicialmente tocava o sino menor, dando o
primeiro sinal, uma hora antes de iniciar a atividade religiosa. Na sequência,
meia hora depois, tocava o sino médio e quando os três sinos tocavam juntos
eles estavam fazendo o último convite para a missa, anunciando que a celebração
estava iniciando.
Em
16 de setembro de 1957 falece o senhor Albino Galvagni que foi “campanaro” da
matriz por quase trinta anos. “Ele foi sempre pontual e responsável. Às 6, às
12 e às 18 horas com pontualidade, Albino tocava os sinos. Ele tinha uma
prática especial no manuseio das cordas quando os sinos ainda eram acionados de
forma manual. Essa atividade era feita por ele todos os dias, com exceção de
sexta-feira santa e sábado de aleluia”.
A
automatização dos sinos da Igreja Matriz N. Sra. do Rosário da Pompeia
aconteceu no ano de 1978, quando no dia 31 de dezembro eles anunciaram a
chegado do novo ano. Há informação que houve uma tentativa de implantar um
sistema elétrico por uma empresa de São Paulo, com disjuntor ligado na
sacristia que acionava os sinos quando o Pe. Geraldo Collet era pároco, porém,
não deu certo.
Os primeiros sinos da nova Igreja Matriz
Nossa Senhora do Rosário da Pompeia foram substituídos tendo em vista que os
mesmos sofreram rachaduras. Os sinos novos, erguidos às 9h30min do dia primeiro
de dezembro de 2006, foram produzidos pela mesma fábrica de São Paulo que
produziu o primeiro sino instalado na pequena capela.
Dialmino Rosalino Salvadori, que por
muito tempo cuidou dos relógios e dos sinos, conta que os eixos/mancais sobre
os quais os sinos estão presos e giram são de ferro e se sustentam sobre um
suporte reforçado de madeira de pinho. Esses mancais precisam ser lubrificados
a cada pouco tempo para evitar um desgaste maior. A cada três meses ele subia a
torre e realizava a lubrificação dos mancais, das engrenagens e dos ponteiros
dos relógios.
Quando Dialmino fala sobre a altura das
torres da Igreja Matriz de Tapera, ele lembra que o engenheiro da obra é o
mesmo que projetou a Catedral de Santa Cruz do Sul/RS. “O material de
construção era içado para o alto das torres através de uma espia de aço em uma
torre especialmente erguida em frente à construção unicamente para esse fim. No
alto dessa torre havia uma roldana na qual a espia de aço corria. Em uma ponta
da espia, os recipientes para o material. A outra ponta estava presa aos aperos
da mula Boneca. Como a energia elétrica ainda era escassa em Tapera, foi
utilizada a tração animal para içar o material para o alto das torres. Marcheto
Gava emprestou a mula “Boneca” que, ao receber a ordem, fazia o trajeto até as
proximidades da hoje Av. XV de Novembro e lá aguardava o comando para retornar
para realizar novo percurso enquanto lá em cima os operários recebiam o
material e devolviam as vasilhas para baixo para serem içadas novamente
carregadas”.
Com duas torres altas, com três sinos,
os relógios, doados por Oreste Mânica, foram inaugurados e abençoados em 08 de
maio de 1950. Ele foi incumbido de acionar o pêndulo após a cerimônia da bênção
litúrgica. Foram os padrinhos: Dionísio Lothário Chassot, o menino Danilo
Mânica, filho de Oreste, e madrinhas, Amália Koehler e Wilma Rosália Erpen. A
cerimônia da bênção foi transmitida pelo serviço de alto falantes da Igreja. Na
oportunidade estiveram presentes os padres José Bevilacqua e Cândido Lorini,
respectivamente vigários-colaboradores de Espumoso e Carazinho. Naquele ano,
Oreste Mânica e Linda Cerutti foram os festeiros.
Oreste Mânica era um madeireiro que
sempre apostava na loteria com a promessa de doar os relógios para a Igreja
Matriz, se contemplado com prêmio. E ele foi contemplado com o maior prêmio de
uma das extrações.
No ano de 1960, em 20 de setembro, foi
iniciado o trabalho de reforma da Igreja Matriz da parte externa de alvenaria.
Em 31 de maio de 1989 os vitrais da
Igreja foram restaurados. O custo desse serviço foi pago por Bruno Orth e
família.
Os relógios da Igreja Matriz foram
fabricados em Estrela/RS por uma joalheria cujo proprietário veio da Alemanha.
Os relógios da Igreja Matriz passaram por uma reforma no ano de 1989. A despesa
desse trabalho teve a doação de Claudete Theis. Os relógios hoje têm
funcionamento mecânico: é através de um timer que, às oito horas e às vinte
horas, dá corda aos relógios durante dez minutos automaticamente. Dialmino
lembra, e também muitas vezes presenciou, que a mãe do Padre Tenário Seibel,
com idade já avançada, ficava durante vinte minutos, duas vezes por dia, todos
os dias, puxando as correntes para dar corda aos relógios. Vendo esse trabalho
sendo feito por uma pessoa com idade avançada e dispensando um bom tempo diário
nessa atividade, para encontrar e colocar em funcionamento um mecanismo mais
fácil para tal atividade, Dialmino trocou ideia com Joanin Poletto para
construir uma alternativa para automatizar a corda dos relógios. Depois de
algum estudo, Joanin desenhou e produziu as engrenagens e a firma Mombelli doou
os motores elétricos para a ativação automática da corda, dispensando assim a
atividade manual.
Joanin Poletto produziu um sistema de dar
corda aos relógios através de um motor elétrico que era ligado por um disjuntor
instalado na Casa Paroquial que precisava ser desligado após vinte minutos de
funcionamento quando produzia corda para os relógios funcionarem durante as
vinte e quatro horas.
Segundo Dialmino, os relógios da Igreja
Matriz foram automatizados entre 1955 a 1960. Em 2016 os relógios novamente
sofreram uma reforma geral e foram colocados em funcionamento.
O bater do tambor, o som da flauta, a
suavidade e a profundidade do som de um órgão tocado em um templo, os acordes
de um violino, o toque do sino abrem portas para a elevação da consciência e,
corpo, mente e espírito se revigoram e se encontram mais perto do Criador
através da magia desses sons celestiais.
Fontes de
informação:
DIALMINO
ROSALINO SALVADORI
FONSECA, Lydya
Mombelli. Tapera
Tapera A
CAMINHADA DE UM POVO
LIVROS TOMBO DA
PARÓQUIA
ELIDE BERVIAN
A Paróquia Nossa Senhora da Pompeia está
se preparando para a comemoração de seus 85 anos de criação no ano de 2017.
Para tanto, a Pastoral da Comunicação, diretoria e padre Oswaldo estão
empenhados em contar um pouco da história da paróquia. É óbvio que pode haver
lacunas. Por isso, solicita-se a quem tenha informações que ofereçam acréscimos
ou esclarecimentos importantes aos relatos, tenha a gentileza de se dirigir aos
integrantes da PASCOM e à secretaria para auxiliar nessa missão importante e
gratificante.
Pesquisa
e texto: Alcides J. Arnhold – Jorn. O10588 - PASCOM
Postado por Paroquia Nossa Senhora do Rosario da Pompeia
as 11:10
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